Publicado originalmente em Marie Claire
Em seu primeiro livro, um misto de ensaio e manifesto, Monique Prada fala da luta de trabalhadoras sexuais por direitos e do combate ao estigma da profissão
Por BÁRBARA TAVARES
Num contexto em que movimentos feministas ganham força na busca pela quebra de padrões patriarcais, existe espaço para a prostituição? Segundo Monique Prada, trabalhadora sexual e ativista pelos direitos das prostitutas, sim.
“Desde que comecei a pensar na profissão por um viés feminista, percebi que a sociedade entende que as duas coisas não combinam. Minha palavra não valia nada porque meu corpo dizia que minha vida sexual era muito ativa”, diz.
Natural de Porto Alegre, Monique foi casada mais de uma vez e tem três filhos. “Não acredito que exista vocação para puta”, escreve ela, que começou na profissão aos 19 por motivação financeira. O ativismo e o combate ao estigma tiveram início em 2010, quando se viu vítima de uma chantagem. “Uma pessoa passou a me ameaçar, dizendo que iria contar para todo mundo como eu ganhava a vida.”
Dessa reflexão nasceuPutafeminista (Veneta, 108 págs., R$ 34,90), idealizado após ela e outras prostitutas – comoAmara Moira, travesti, doutora em crítica literária pela Unicamp e autora do livroE Se Eu Fosse Puta– se declararem feministas. “Recebemos ataques não só de homens machistas, mas também de mulheres feministas. A luta contra as prostitutas é uma pauta que une diversas esferas políticas”, lamenta.
Na obra, Monique escreve, por exemplo, sobre o empoderamento financeiro das mulheres, e como ele não é aceito pela sociedade quando o dinheiro é ganho em troca de sexo. “Aparentemente, é uma moeda que não empodera, ainda que tenha exatamente o mesmo poder de compra.”
Ela também fala sobre a polêmica em torno da regulamentação da prostituição no Brasil, onde a prática é legal, mas não existem leis que garantam os direitos das trabalhadoras. “Considere parar e ouvir o que uma trabalhadora sexual diz como se estivesse ouvindo qualquer outra pessoa. Ninguém perde com isso. Ao contrário: ganhamos todas.”
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